quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

deslocamentos

Foram muitos dias de retas até chegar aqui.

Saimos de Rosario e fomos até Bahia Blanca. Foram 800kms de deslocamento. Esse dia foi bem puxado pra mim e a tarde, ainda a 400km do destino, pedi arrego. A Monika dirigiu a Cabrita, acompanhada do Caio Ferraz, filho do Xará, e eu fui no carro do Xará pra conseguir tirar um cochilo. Mal o carro começou a andar e eu já apaguei. Não sei se são as retas, o tédio que toma conta as vezes ou o cansaço dessas pernadas longas, mas foi um sono insuportável e me pareceu prudente não insistir em dirigir com sono. Depois de 140kms paramos novamente e consegui pegar o carro de novo. A Monika ainda foi comigo mais um trecho e assim eu consegui terminar o dia. Ainda bem que estou rodeada de pessoas dispostas a ajudar.

Já chegamos tarde em Bahia Blanca. O Paulo já estava por lá nos esperando, jantou com a gente e sem depois de uma tacinha de vinho eu já fui direto pra cama. No outro dia, 7h30 da manhã, já estávamos todos a postos pra começar a rodar novamente, dessa vez em direção a Puerto Madryn. 690 kms. Esse dia também foi longo. Entramos oficialmente na Patagonia e após alguns minutos de emoção por ter chegado, a empolgação deu lugar ao tédio por conta das retas monótonas que insistiram em nos acompanhar durante todo o caminho.

Puerto Madryn é uma cidadezinha agradável a beira mar, com um grande pier, muitos pescadores, lojinhas e restaurantes de frutos do mar. Lá conseguimos trocar mais dinheiro, jantamos uma lula deliciosa, tomamos uma cervejinha, compramos adesivos e cama! Tenho chegado exausta aos nossos destinos. No final do dia pareço um zumbi soando e mareado de tanto chacoalhar dentro do carro. Eu amo a Cabrita, isso todos nós sabemos, mas que a bichinha balança e faz barulho… Isso ela faz. rs

De Puerto Madryn partimos pra Puerto Deseado. O dia começou com aquelas mesmas paisagens desérticas, retas e monótonas dos outros dias, mas quando eu menos esperava, a Ruta 3 nos levou direto pro mar, e passamos boa parte da nossa tarde margeando o Oceano Atlântico. Fiquei tão feliz em estar perto do mar e estar vendo uma paisagem diferente que mal dei conta de dirigir, filmar e fotografar tudo aquilo. Ufa! Como foi bom dar de cara com aquele mar azul. No caminho paramos em uma praia que estava cheia de lobos marinhos. Chegamos pertinho deles, filmamos, tiramos fotos, nos divertimos com aquele encontro e quase vomitamos com aquele cheiro. Os bichos são muito fofos, mas como fedem!

Seguimos o nosso caminho e voltamos a nos afastar do mar. Mais uma vez retas sem fim, nada de um lado, nada do outro lado. Senti tédio, senti sono, senti preguiça, senti vontade de parar o carro e ficar ali estacionada até meu bode passar. Mas nem precisou… O céu foi ficando cada vez mais lindo com o cair da tarde, começamos a falar besteira no rádio e após horas intermináveis de viagem, mais algumas paradas pra abastecer (como os deslocamentos são longos, paramos pelo menos 2 vezes por dia pra abastecer os carros) e depois de eu achar que Puerto Deseado não existia e que o mundo ia acabar assim que apetecesse uma curva, nós finalmente chegamos àquela cidadezinha fofa portuária.

Amanhã vamos fazer um dos passeios mais esperados da viagem, o passeio a Ilha dos Pinguins.

Oba!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

on the road again

E começa mais uma expedição!

Depois de deixar minha mãe na rodoviária de Jau com o coração partido, sem saber ao certo quando nos veremos novamente (ela mora em Barcelona), encontrei com parte do comboio já na estrada, na saída da cidade. Gaia, Monika, Xará e Caio vieram de Brotas, Caio Cordeiro vindo de BH e a família Kalassa de Ibiuna. Tenho certeza que todos eles, assim como eu, passaram a virada de 2014 pra 2015 já pensando nessa viagem. Acho que para nós o ano começou ali, naquele encontro, naquele posto em Santa Cruz do Rio Pardo.

De lá o nosso mini comboio seguiu até Campo Mourão, onde passamos a noite e no dia seguinte cedinho partimos pra Foz do Iguaçu. Foi um dia gostoso de estrada. Poucos kms e eu ganhei a ótima companhia do Caio Kalassa, um menino de 10 anos que já tem no sangue o espírito expedicionário. Ele já fez 6 expedições com a Gaia, sabe de cor todos os roteiros e lembra de detalhes que nem mesmo o Gaia deve lembrar. O Caio conversa com a gente de igual pra igual, passa horas dentro do carro como se estivesse na sala de casa, é um ótimo DJ e anima qualquer viagem. Ele estava achando super legal andar na "Cabrita Voadora" como ele decidiu chamá-la, mas mal sabe ele que quem ganhou o melhor presente aquele dia fui eu.

Ao chegar no Hotel já encontramos com mais alguns participantes. Michel e Cecília de SP, Sergio e Nilton do Rio, João e Nuccia também do Rio e família Simon, Fernando, Suzy e Emilia, de Goiás.

Na manhã seguinte, dia 4, saimos cedinho e tocamos direto pra Corrientes. Foram 680km aproximadamente e a estrada até Corrientes tem uma característica cruel, assim como muitas na Argentina. Retas intermináveis. É engraçado como as retas aos poucos te transportam pra outra dimensão. Elas te embalam em pensamentos profundos, te fazem questionar se estamos realmente ali, te tiram bastante da realidade. Eu já estava cansada e zonza quando paramos em um posto há uns 200km de chegar e o Caio mais uma vez, gentilmente, me ofereceu companhia. Confesso que esse dia eu estava um tanto azeda e achava que eu não queria a companhia de ninguém, mas quando ele ofereceu, algo muito mais forte que o meu mau humor, tomou conta de mim e eu aceitei aquele convite com enorme alegria. E foi a melhor coisa que eu fiz. Ele salvou o meu humor, o meu dia, me tirou do transe que eu havia entrado e me entregou em Corrientes com o coração leve e com a certeza de ter tido um ótimo dia. Obrigada, Caio.

A noite, depois de tomar cerveja na praça com o grupo, jantar e voltar pro hotel, tomei um banho, deitei na cama e estava tão cansada, mas tão cansada, que até chorei um pouquinho. Chorei por um serie de coisas. Chorei porque finalmente tudo aquilo estava começando de novo, chorei porque eu estou viajando com a pessoa que eu amo, chorei porque estava novamente em Corrientes, naquele mesmo hotel por onde eu passei meses atrás acompanhada da Julia, chorei porque eu estava tão exausta que meu corpo não respondia a nada, e só chorando, só colocando toda aquela emoção pra fora que eu fui capaz de finalmente relaxar e dormir um pouquinho.

O despertador tocou sem pena as 6h15 da manhã. Arruma mala, pega todas as cameras e carregadores, ajeita a mala, toma banho, sai do quarto carregada com cooler, 2 mochilas e uma mala (não, eu não consegui reduzir os meus volumes), toma café, vai buscar o carro, carrega o carro, liga o rádio, liga o farol, põe o cinto, liga o som, engata primeira e lá vai o comboio novamente, dessa vez até Rosário. 700kms, algumas paradas para abastecer, uma ou outra pro xixi e fim de tarde cá chegamos. 

Mais uma vez eu cheguei cansada, o que me faz perceber que aquele mês intensivo de ginástica que eu fiz antes da outra viagem, foram fundamentais pra eu ter aguentado o tranco com mais disposição. Dessa vez, que eu estava antes totalmente sedentária, eu tenho chegado nos hotéis acabada. Não tive nem forças pra sair pra jantar. Cá fiquei quietinha, no ar condicionado, com as pernas pra cima, me recuperando de mais um dia de longa jornada.

É curioso perceber aos poucos como essa viagem tem sido diferente da outra. Como cada viagem é sempre única e cheia de surpresas. Criamos expectativas, imaginamos coisas, planejamos, projetamos, e quando estamos ali, no caminho, indo rumo o desconhecido, tudo muda, tudo se mexe e remaneja, e tudo fica ainda mais gostoso e mais verdadeiro.

Por enquanto ainda estamos no nosso deslocamento. São pernadas longas, paisagens ainda um tanto monótonas, calor enlouquecedor do lado de fora (e no meu carro também). Mas a cada km deixado pra trás, um novo mundo se apresenta. E eu não me canso de achar isso fascinante e de querer ir sempre em frente.