sábado, 27 de setembro de 2014

Dia 18 - Corrientes - Foz do Iguaçu - FIM DA EXPEDIÇÃO

Hoje o dia amanheceu estranho. Havia no ar um clima de despedida. 
O Paulo se despediu de nós ali mesmo, onde estávamos tomando café da manhã. Dali ele ia pegar outro rumo e voltar pra São Paulo por outro caminho. 

De repente me caiu a ficha que dali a pouco eu deixaria de ver e conviver com aquelas pessoas que já eram parte da minha vida. Enquanto tomava meu café e comia 5 medias lunas, passei a olhar pra todos com nostalgia. Só eu sei a falta que tudo aquilo me faria...

A estrada de Corrientes pra Foz era infinitamente mais interessante e bonita do que a de ontem. A paisagem voltou a mudar e viajamos boa parte do tempo com o Rio Paraná nos acompanhando. 

Paramos em um posto pra uma hidráulica e ali nos despedimos da Monica, Antonio e Joaquim. Eles se separaram do comboio e pegaram outro rumo pra chegar mais rápido no Rio de Janeiro. Mais uma despedido. Agora éramos apenas 8. O comboio foi ficando cada vez mais silencioso.

Cruzamos romeiros a cavalo, passamos por vilas pequenas e arrumadinhas. A vegetação de pasto rasteiro do Chaco começou a dar lugar a árvores grandes e quando menos esperávamos, já estávamos de novo rodeados de mata. Até a cor da terra era diferente e o clima de Brasil foi ficando cada vez mais presente. No clima, no ar, nos cheiros, nas fisionomias.

O sono da hora do almoço bateu forte hoje e várias vezes eu tive que apelar pro spray de água e ar condicionado na cara. Foi em um desses momentos que cruzamos com um caminhão apressado do qual desprendeu um bloco grande de barro que atingiu direto o meu carro. Fez um barulhão na lataria e eu e a Julia levamos um susto tão grande que o sono passou rapidinho. Por sorte não bateu no vidro e só vi o estrago feito quando chegamos no destino.

Chegamos em Foz do Iguaçu no começo da tarde. Nosso comboio se dividiu e parte dele quis parar no free shop pra dar uma olhadinha. Nós, Gaias e Matsumura fomos direto pro hotel. Chegando lá, antes de descer do carro, eu desatei num choro que parecia que não ia ter fim. Comecei a pensar em todo o trajeto, em todo o caminho pra chegar até ali. Foi uma superação de várias coisas, foi um grande aprendizado pra mim. Olho pra trás e vejo que fui deixando muitas partes minhas pelo caminho. A Dora que chegou em Foz é muito diferente daquela que saiu de São Paulo. Hoje, quando eu cheguei, eu me senti mais leve e também mais feliz. A Julia chorou comigo, abraçamos Monika e Gaia e tomamos cerveja pra celebrar aquele momento tão lindo.

As 20hs nos encontramos todos e jantamos todos juntos. O Nelson fez um belo discurso homenageando a todos e é claro que eu chorei mais um pouquinho.

O jantar acabou, nós continuamos mais um pouco na cerveja, tentando prolongar um pouco mais aquele dia, mas aos poucos uns e outros foram se retirando e ali nos despedimos. Eu e a Julia vamos prorrogar um pouco a nossa volta e antes de chegar em São Paulo vamos dar mais um rolezinho.

Em Foz do Iguaçu terminou a 57ª Expedição Gaia, a melhor viagem que eu fiz na minha vida.

Mesmo tendo escrito esse blog inteiro, me faltam palavras para agradecer à Gaia por essa experiência incrível. Gaia, Xará, Leli e Monika, obrigada pelo cuidado e atenção que tiveram e pela amizade que construimos. 

E o que dizer daqueles loucos como eu que se jogaram nessa aventura de 10.000kms? Que parceiros incríveis! Bravos e incansáveis guerreiros que me acompanharam e com os quais me diverti durante todo o caminho. Nelson e Tereza, Caio e Luiza, Matsumura, Paulo, Pedro, Gracieli e Sergio, Monica, Antonio e Joaquim, Ladmir e Claudia. Obrigada por todo o carinho que me deram durante todo o caminho.  

Julia, amiga, ter encontrado com você no Atacama deixou a  viagem ainda mais bonita.

Eu sempre soube que essa viagem seria maravilhosa, mas talvez eu não soubesse o que isso de fato significaria. Eu só queria agora voltar lá atrás e começar a arrumar o carro de novo e ir de novo pra Brotas, rumo ao desconhecido e começar esse roteiro mais uma vez, e repetir tudo, do mesmo jeito, do início.

Outras viagens virão, mas essa eu vou guardar pra sempre comigo.

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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Dia 17 - Salta / Corrientes ARGENTINA

Saímos bem cedo de Salta. Hoje seria o fatídico dia dos 830kms. Tinha medo desse dia desde antes de sair de São Paulo. Essa reta final de viagem sempre pareceu ser a parte mais puxada.

A estrada de Salta pra Corrientes começou interessante, até que consegui ver beleza naquele caminho, mas depois de 400kms eu já estava cansada. Alguns trechos dela eram retas intermináveis, com a mesma vegetação, que parecia um sansão do campo sem graça. Até que víamos um falcãozinho aqui, um periquito ali, alguns Lilis espalhados, mas a maior parte do tempo era uma uma reta sem graça.

Já no começo do dia a Julia começou a se empolgar com as flores do campo, chegou até pra pedir pra parar o comboio pra ela colher flores, mas o Gaia fingiu que não ouviu e encheu os canos. Quando paramos no posto pra tomar café, lá foi ela atrás de flores, mas voltou com a mão cheia de espinhos e só umas florzinhas que logo murcharam e foram pro lixo.

Foi nessa estrada que eu finalmente consegui gravar o odômetro do carro virando pra um número redondo. Aqui cheguei aos 8.000 kms rodados. Yeah! Tentei gravar os 5.000, 6.000, 7.000... Mas sou tão lesada que só quando lembrava de reparar na kilometragem já havia passado 55kms.

8.000kms são muitos kms. Lembro de chegar em Porto Velho, lá atrás, quando havia rodado apenas 3.200 e aquele já ter sido o meu recorde de kms dirigidos. Desde então eu me supero a cada dia. Agora tudo parece tão pertinho!

A estrada seguia interminável. Eu e a Julia falamos até da vida que não vivemos e dos sonhos que nunca tivemos. Ouvimos todas as músicas, filmamos todas as curvas, rimos, choramos, comemos, só não dormimos... e mesmo assim, não chegávamos nunca. Em determinado momento apareceram muitos buracos. Fui tentar desviar de um deles e levei uma bronca do Gaia. Em velocidade alta, meu carro não é nada estável e desviar bruscamente de algo, pode até capotar o carro. Depois disso eu fiquei pianinho e cai bonito em todas as crateras do caminho. rs.

Chegamos em Corrientes com o sol de pondo. Foi um por do sol lindo! Queria ter parado ali na beira do rio pra tomar uma cerveja e contemplar aquela beleza, mas tivemos que ir direto pro hotel. Depois de tantos kms, o que sobrava de mim era menos que um bagaço.  Tomamos uma cerveja ainda no estacionamento, depois de parar os carros, fui com a Julia e o Pedro trocar mais um pouco de dinheiro e fomos jantar ali por perto. E toma mais cerveja no jantar, na volta para num botequinho, e assim vamos, dormir exausta mas alegrinha.

Hoje foi o nosso último penúltimo dia de expedição. Já falei isso algumas vezes, mas vou ser redundante. Pensar que essa viagem está acabando me parte o coração...









quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Dia 16 - Purmamarca / Salta ARGENTINA

Como hoje o trajeto seria curto, 260kms, pudemos sair um pouco mais tarde. 9hs da manhã nos despedimos de Purmamarca. Saimos de lá com o coração partido. O céu aquela manhã estava também colorido e formava arco-íris nas nuvens. Aquele céu com aquelas montanhas pediam pelo menos mais um dia de visita.

Mas a viagem vinha chegando ao fim e tinhamos que seguir pra Salta, nosso próximo destino. 

Aos poucos a paisagem de montanhas áridas e coloridas deu lugar a uma estrada cercada de árvores frondosas. Fazia tempo que não víamos árvores grandes, verdes e floridas. Nesse trecho específico havia uma árvore com flores vermelhas que não descobrimos o nome, mas que era tão linda... Apesar de estar bem estragadinha, eu e a Julia estávamos atentas aos Lilis e as fofuras do caminho. Mesmo de ressaca, é uma delícia viajar de carro. rs.

Seguimos descendo a cordilheira passando por Jujuy e chegamos em Salta na hora do almoço.

Salta era o lugar ideal pra passear e comprar vinho. Só ouvi falar bem da cidade e todos recomendaram que saissemos pra dar uma volta. A turma toda saiu animada pro supermercado do shopping pra comprar caixas de vinho argentino. Eu e a Julia, depois de tomar umas cervejas de boas vindas, acabamos dormindo e não saimos. Como na noite anterior tínhamos bebido um pouquinho além da conta (nem conto o total de garrafas de vinho que foram) a gente acabou pedindo arrego e capotou sem medo. O hotel que ficamos é incrível e apesar de terem nos colocado em uma cama de casal, ela era tão grande que a gente mal se viu. Quando acordamos já era quase hora do jantar e fomos correndo até uma loja de vinhos que tinha por ali que o Paulo recomendou e resolvemos o problema sem precisar ir até um shopping, o que só de pensar já me dava pânico.

Saimos pra jantar, bebemos mais um pouquinho, depois mais algumas saideiras pelo caminho e voltamos pro hotel. O dia amanhã vai ser beeeeem longo. O único jeito era dormir cedo e descansar mais um tantinho. 830 km no mesmo dia. Ai que medo!














quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dia 15 - San Pedro do Atacama CHILE / Purmamarca ARGENTINA

Acordamos cedo pra sair e confesso que eu estava um pouco desacostumada a tal movimentação matinal. Foi difícil sair da cama, mas a alegria de voltar pra estrada já me animou logo cedo. Hoje seriam 400kms de trajeto.

Foi a primeira saída da Julia e ela ainda estava um pouco em câmera lenta, mas pegou o jeito rapidinho. 

Saimos da Pousada quase com o Sol. O vulcão Licancabur estava especialmente lindo essa manhã e o caminho pra Argentina passava bem pertinho dele.

Começamos o dia ao som de Morphine. Foi a trilha sonora perfeita pra aquele momento. A estrada passava perto dos vulcões e conforme subiamos, nos deparamos até com gelo na estrada. Que belo amanhecer pegamos esse dia.

A estrada pela manhã era especial e fresca. Parecia até intocada. Como se fôssemos os primeiros a passar por ali. Tudo brilhava de um jeito especial aquela manhã e ter a Julia do meu lado, ajudando com as funções, já pegando o rádio, colocando música, navegando comigo... Fez toda a diferença. Eu gostava dos meus dias sozinha no carro e foi muito bom ter vivido isso por 20 dias, mas ela trouxe um frescor, uma novidade, uma quebra de rotina e amizade que prometem tornar os meus dias ainda mais especiais. Tá sendo muito bom experimentar isso.

Paramos algumas vezes na estrada e as paisagens em nenhum momento paravam de mudar. Quando eu achava que finalmente teriamos uma certa monotonia visual, tudo mudava novamente. Muitos lilis, muitos tufinhos, muita boa música depois e chegamos na fronteira do Chile com a Argentina. A mais organizada até o momento. No mesmo lugar já fizemos saída do Chile e entrada na Argentina e Aduana dos dois países também. A vistoria do carro foi rápida e não precisamos passar nada pelo raio-x. Ufa.

Seguimos nosso caminho e paramos em mais um salar, dessa vez a Salina Grande, já na Argentina. O céu estava de um azul escuro e intenso e constratava lindamente com o branco do sal. "Saquen las fotos y vamos!" Continuamos rodando. O salar deu lugar a montanhas e caminhos sinuosos. De repente começaram a surgir cactus e montanhas coloridas. Burricos e Lhamas por todos os lados. Eu e a Julia estavámos quase pulando pra fora do carro de tanta emoção com tudo aquilo.

Depois de descer muitos metros pela estrada, aos poucos as montanhas foram ficando coloridas. Eram muitas cores diferentes em montanhas diversas. Uma loucura! Chegamos em Purmamarca, onde passariamos a noite em uma pousada muito charmosa e aconchegante chamada Huaira Huasi.

Purmamarca significa “Pueblo de la Tierra Virgen” em língua aimará, e as montanhas, o cerro, originado há 75 milhões de anos, é formado por sedimentos marinhos, lacustres e fluviais que foram se depositando na zona durante séculos. Cada cor vem de um período geológico diferente. É um abuso de tão lindo. Dava vontade de ficar ali olhando pra aquelas montanhas sem parar. A Julia tentou abraçar alguns cactus, mas acabou tendo que abortar a missão. O amor não era assim tão recíproco e ela se espetou. rs.

Como chegamos cedo e o nosso quarto ficava em uma casa na pousada com sala e lareira, resolvemos ir até a cidade comprar vinho e uns aperitivos e jantar por ali mesmo. Demos uma voltinha na cidade, compramos mais coisinhas (a feira de artesanato lá é imperdível!) e voltamos pra pousada. Eu, Julia e Monika nos aventuramos na cozinha e fizemos várias coisinhas pra comer com o vinho. Fazia tempo que não fazia algo assim. Foi gostosa aquela sensação de estar em uma casa e não em um hotel. Ficamos na frente da lareira conversando, ouvindo música, bebendo vinho. É engraçado, mas essas pessoas já são pra mim quase uma família. Naquele momento eu queria ter ficado em Purmamarca pelo menos por mais uma vida.



























terça-feira, 23 de setembro de 2014

Day Off em San Pedro do Atacama

Ontem foi um daqueles dias de se organizar pra pegar estrada novamente.

Depois de termos ido super tarde, acabamos acordando tarde também. A Julia praticamente não acordou o dia inteiro. rs. Foi o dia de bicho preguiça dela.

Tomei café e me acomodei em uma das mesas da recepção pra colocar o blog em dia. Vários textos atrasados, vários trechos que ainda não haviam sido documentados... Por algum dia eu achei que eu tava de férias e me rebelei contra o ato de ter que obrigatoriamente escrever alguma coisa. Andei com mais vontade de viver e sentir do que contar o vivido e sentido. Mas a água bateu na bunda e como existe um objetivo por trás de tudo isso, era hora de voltar a trabalhar.

Fiquei umas 3 horas ali sentada e vendo o movimento do lado de fora. Passavam pessoas com malas, funcionários atarefados, alguns tirando fotos, vans que chegavam e partiam trazendo ou levando gente pros passeios. Eu pela janela espiava o mundo de movendo lento, com aquelas cores terrosas e intensas do deserto. Com o coração feliz por ter feito ontem um passeio tão lindo. Eu sentia naquele momento que hoje eu não daria conta de absorver mais nada que eu visse, e optei por passar o dia quietinha.

Voltei pro quarto, comecei a arrumar as milhões de malas, eu e a Monika fomos abastecer o carro no mini posto de San Pedro, dei uma limpada no carro e enquanto isso começou a função tirar engates dos carros e no meu caso também o guincho... Caramba! Dei muito trabalho pro Gaia e pro Xará. Tirar o engate já foi chato, mas o guincho, credo, que negócio pesado. E ainda por cima aquele negócio tava quebrado. Eu devia ter tirado ele no Brasil, mas realmente não imaginava que na Argentina ele seria um grande problema. 

A função "ajeitar os carros" foi longe. Depois que eles tiraram o meu guincho ainda tiveram que mexer em vários outros carros. Foi um dia puxado. Eu e a Julia, quando ela conseguiu acordar,  aproveitamos pra já deixar o quebra-cabeça das malas montado. Tô adorando a idéia de agora viajar acompanhada!

Saimos do hotel pra dar uma volta e fazer comprinhas, comemos um negocinho, passamos no mercado e quase fomos pro vale da Lua, mas ainda bem que não deu certo. Eu não estava no clima de pegar van e fazer passeio com gente desconhecida. A vibe dessa viagem é outra, acho que eu não ia embarcar bem nesse passeio.

Voltamos pra pousada e dali a pouco saimos pra jantar. Onde? Onde? rs. No Adobe!

Hoje foi dia de despedida de San Pedro do Atacama. Tomamos vinho, comemos bem e voltamos cedo pro hotel. Amanhã pegamos estrada cedinho. Agora começa a reta final da nossa viagem, a volta pra casa. Só de pensar nisso eu já fico com o coração apertado. Tudo que eu queria era voltar no tempo e começar esse role todo de novo...









Para ser grande, Sê inteiro.

"Para ser grande, Sê inteiro: nada 
Teu exagera ou exclui. 
Sê todo em cada coisa. 
Põe quanto és 
No mínimo que fazes. 
Assim em cada lago a Lua toda 
Brilha, porque alta vive."

(Ricardo Reis)

Em homenagem ao amigo Paulo Cardoso de Almeida que lindamente recitou pra gente esse poema ontem na calada de noite fria de San Pedro de Atacama.

And then there were 10 again!


 

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Deserto do Atacama

Acho que parte de mim vai ficar pra sempre naquele deserto.

Acordamos hoje com muita preguiça e por pouco não voltamos a dormir e desencanamos do passeio. Por sorte fomos mais fortes que o sono e as 7h30 já estávamos tomando café.

As 9 horas saimos em direção ao Salar do Atacama onde costumam ficar os Flamingos.

Eu ainda não tinha muita idéia do ia encontrar nesses passeio. Já tinha ouvido falar muito do deserto, mas para mim aquilo ainda soava inóspito e árido.

O Deserto do Atacama fica no Norte do Chile e é o deserto mais alto e mais árido do mundo. Em alguns lugares não chove há 400 anos e o índice pluviométrico anual é 0,1 mm. O Atacama é 250 vezes mais seco que o deserto do Saara. A gente sente na pele e no nariz o efeito dessa secura toda. 

Dirigimos alguns kms, em algum momento achamos que tínhamos nos perdido, mas quando menos esperávamos a paisagem mudou, mais uma vez, e começamos a ver ao longe o branco do Salar. Estávamos no caminho certo.

Seguimos o caminho demarcado por pedras de sal e chegamos até a lagoa dos flamingos. Eles estavam distantes e as fotos ficaram um tanto deprimentes porque estávamos sem grandes lentes. A câmera da Julia acabou a bateria ainda no carro e tinhamos só o iphone e a gopro, que deixou os Flamingos ainda menores.

Todo aquele sal, aquele lugar, aquelas lagoas, aquele monte de vida de diversos pássaros... As vezes eu sentia que estava em um lugar mágico. É estranho pensar que um dia tudo aquilo foi mar.

Saindo do Salar fomos direto pras Termas de Puritama. Com uma estrutura super bonitinha e organizada, chegamos nas termas pra tomar um banho de água bem quente. Infelizmente as piscinas estavam um pouco cheias e acabamos ficando com uma super rasinha, mas deu pra aproveitar bem. A água é bem quente, enquanto do lado de fora apesar de ser um dia ensolarado, estava bem frio. Eu sofri bastante na hora de sair da água. Fui correndo e gemendo direto pro vestuário me trocar. Se tem uma coisa que eu não gosto é de passar frio.

Ainda era relativamente cedo quando saimos das Termas mas mesmo assim resolvemos arriscar e ir até os Geyseres del Tatio. Todo mundo sempre falou que o ideal seria chegar muito cedo pela manhã ou no final da tarde, senão não conseguiríamos ver o efeito do vapor e água quente saindo da terra, mas fomos mesmo assim.

O caminho até lá foi uma das coisas mais lindas que eu já vi na vida. A paisagem muda com uma intensidade e uma força que foram várias as vezes que eu senti vontade de chorar. O deserto tem uma beleza única e uma força e energia que mexem de verdade com a a gente. Cada tufinho de planta seca, cada vicunha que aparecia ao longe, cada curva que fazíamos era um êxtase. Eu e a Julia estávamos enlouquecidas com aquele lugar.

Paramos em uma lagoa no meio do caminho pra fazer um lanche. Ventava e fazia muito frio, mas a luz naquele lugar deixava tudo dourado e resolvemos ficar por ali mesmo, rodeados por aves que imploravam que lhes déssemos um pedaço do nosso sanduiche.

Chegamos nos Geyseres e apesar de cedo, talvez porque estava muito frio, conseguimos ver bem os jatos e colunas de vapor e poças de água borbulhante. O melhor de tudo é que estávamos sozinhos. Não tinha ninguém naquele parque geotérmico. Tiramos fotos, andamos, sentamos e celebramos a alegria de estar naquele lugar. A luz começou a cair um pouco e o frio foi aumentando. Eu já estava com 5 casacos alheios + gorro + luvas e então resolvemos ir embora. Os Geyseres estão a 4.200m de altitude. Ficar ali por muito tempo também não era muito recomendável.

Ao ir embora, encontramos na estrada uma luz mágica de fim de tarde. Tudo estava ainda mais dourado e foi difícil, pra não dizer impossível, conseguir não filmar ou fotografar tudo. Ali no deserto começou o meu ataque de "lilismo" e esse se espalhou pelo nosso grupo. Eu não podia ver uma vicunha, lhama ou qualquer coisa fofa que eu abria a janela e gritava "Liliiiiiiiiiiiii". Sim, eu parecia uma louca retardada, mas demos muita risada, o "Lili" pegou e não demorou 5 minutos pra Julia estar fazendo a mesma coisa. Eram tantos Lilis naquele lugar! Foi enlouquecedor. Coitado do Leli que estava no carro com a gente e teve que aguentar as duas loucas no carro e ainda ver toda a paisagem de lado. Pelo menos a trilha sonora estava boa e ele acabou se divertindo também. Entre Lilis, Rolling Stones e a minha direção perigosa com o cotovelo no volante, gopro em uma mão e celular em outra, chegamos de volta ao hotel sãos e salvos e com um sorriso de orelha a orelha. 

Eu sei que sai aquela manhã de casa sem saber ao certo o que ia encontrar e talvez essa tenha sido a melhor coisa que eu fiz. Cada curva que fizemos trouxe uma nova paisagem, novas cores, novos olhares. Tudo mudava tão rapidamente e mesmo assim o espírito acompanhava. Como se eu tivesse esperado a vida inteira pra ter aquela experiência. Eu me sentia pronta pra receber tudo aquilo e meu coração estava tão feliz e agradecido por estar ali e em comunhão com aquele lugar... Agora olhando pra tráz, eu reforço o que eu disse no início. Parte de mim ficou naquele deserto. Eu deixei uma Dora lá, vagando perdida, parando para passar a mão nos tufinhos de mato, correndo com as vicunhas, observando os vulcões. E eu sei que essa Dora eu não vou encontrar nunca mais, mesmo sabendo que pro Atacama eu vou voltar. E ela vai ser bem mais feliz lá onde agora está.

A noite estávamos insuportavelmente felizes. Voltamos pro Adobe pra jantar, comi um lomo incrível, tomamos uma cervejinha e como se não bastasse, ao tentar faturar uma sobremesa, a Julia disse pro garçom que era aniversário dela e ainda tivemos que cantar parabéns. A noite estava linda e não queríamos que acabasse, compramos umas garrafas de vinho e entramos noite a dentro relembrando cada detalhe do dia maravilhoso que tivemos. O Paulo chegou de Tacna, nos encontrou na piscina, e ali ficamos quase até amanhecer o dia.

Ah... Com certeza eu volto pro Atacama.