Acordar em Foz do Iguaçu e não necessariamente precisar acordar, nem arrumar mala, nem sair correndo foi no mínimo estranho. Posso dizer que hoje eu acordei com um grande vazio no peito.
Quando eu a Julia fomos tomar café, os Gaia e o Matsumura já tinham ido embora. Ficamos apenas eu e ela, Caio e Luiza, Pedro, Sergio e Graciele. O Caio foi embora pouco depois e a família do Pedro apesar de ter ficado mais uns dias, a gente mal encontrou.
O dia estava feio e pairava no ar uma certa tristeza. Aquele clima de despedida da noite anterior ainda estava escondido ali, atrás de cada porta, de cada cadeira. Não demorou muito e começou a chover. Chover de verdade... Daquelas chuvas que não vemos há anos em São Paulo. Hoje era nosso dia de conhecer Foz do Iguaçu, mas acabamos voltando pro quarto. Ali ficamos um bom tempo, até que deu um siricutico na gente e resolvemos sair assim mesmo. Foi só colocar o pé pra fora que a chuva parou. Fomos até as cataratas e por pouco não desistimos ainda no estacionamento. Não sei se é porque era domingo, mas aquele lugar parecia o rascunho mal feito do mapa do inferno. 20 ônibus, um monte de gente com capa de chuva, crianças e adultos histéricos correndo. Não, eu não gosto de lugares cheios, sim, eu detesto multidões, é, talvez seja esses um dos motivos de gostar tanto de viajar no meu carro com pouca gente. rs.
Compramos o ingresso, pegamos o ônibus e lá fomos nós curtir o passeio turístico. Nosso espírito era de profunda depressão, mas no final das contas até que nos divertimos. Pouco deu pra ver de fato as cataratas primeiro porque estava nublado, segundo que estava meio chovendo e a água tava tão barrenta que aquilo tava quase nojento. Resumindo, aquele domingo era o dia perfeito pra ter ido embora... Mas não o fizemos.
Saindo das cataratas fomos tentar arranjar um lugar gostosinho pra comer e talvez até comprar um artesanato. Rodamos a cidade inteira, estava tudo fechado. Acabmos em um restaurante "italiano" de um hotel e nos acabamos em um Filé a Parmegiana. Acompanhado de uma Original, é claro, afinal de contas, em algum lugar tinhamos que colocar toda a frustração daquele dia fiasco.
Voltamos pro Hotel, arrumamos as coisas e lá ficamos o resto do dia. Era melhor evitar qualquer tipo de risco. Ainda por cima jantamos um cheeseburguer. Meu Deus, será que dá pra deletar esse dia?
Segunda-feira pela manhã acordamos bem cedo e fizemos questão de sair correndo. Agora que era estrada sem Gaia, o jeito era contar com o Google Maps, até porque as bonitas aqui nem cogitaram comprar um mapa rodoviário. O google nos mandou cortar caminho por uma rua de pedra mal ajambrada que por um momento eu achei que não fosse sair dali viva, mas 11kms e muito tempo depois, avistamos a estrada e seguimos o nosso caminho.
A idéia era parar pra dormir em Ourinhos, já no estado de São Paulo, mas a viagem fluiu bem, tinham poucos caminhões, quase não precisamos parar pra fazer xixi e acabamos passando em Ourinhos muito cedo ainda. Como o nosso destino antes de São Paulo era Cunha, resolvemos aumentar o trajeto do dia e chegar mais cedo lá no dia seguinte. Dirigi seguido até Brotas. 900kms. Chegamos lá de noitinha. A Cabrita balança bastante e a sensação que eu tinha era de que eu passei o dia inteiro navegando. Encontramos com a Monika e o Gaia e fomos jantar e tomar mais uma cerveja. Foi reconfortante encontrar com eles. Depois de tanto tempo convivendo, 2 dias sem vê-los e a saudade já era tremenda!
Na terça-feira, como já tínhamos economizado uns bons quilometros, acordamos mais tarde e saimos de Brotas com bastante calma. Ainda passamos na casa dos Gaia pra conhecer a Zel, a Zuca e a Nora, as duas cachorras e a gata da casa. Mais uma vez nos despedimos e depois disso partimos.
A estrada foi tranquila e apesar de ter pegado a Dutra e não a Carvalho Pinto, chegamos em Cunha cedinho e ainda aproveitamos a tarde pra dar uma volta, fazer uma sauna e a noite jantar e tomar um choppinho.
Ficamos tão encantadas com Cunha e com a pousada Cheiro da Terra que desistimos do plano de ir pra Ubatuba no dia seguinte e ficamos por ali mais um dia.
Quarta-feira acordamos pra tomar café e depois voltamos pra cama. Dormimos até meio dia. Acordamos mais uma vez e depois de trancar a preguiça no banheiro resolvemos que precisávamos queimar algumas calorias e fomos fazer um passeio. Nos recomendaram que fôssemos até a Pedra da Macela, que era uma caminhada tranquila e a vista era linda. A estrada pra chegar lá era uma gracinha. Eu e a Julia quase compramos umas 3 casinhas. Chegamos no pé da trilha, deixamos o carro e fomos subindo devagarzinho. Já nos primeiros 500m, eu tava ali linda gravando um depoimento pro meu vídeo quando de repente o cadarço da bota direita enganchou na bota esquerda e quando eu menos esperava, BUF! Cai de joelho e cotovelo no chão. Uma raladinha aqui, um sanguinho ali, um roxo no cantinho e sacode a poeira que ainda tem bastante chão pra chegar lá em cima. rs.
A caminhada foi ficando interminável e quando eu achava que estava quase chegando, mais uma piramba se apresentava. A Julia foi ficando pra trás, já que ela parava pra olhar todas as florzinhas, e eu fui andando, quase engatinhando, toda aquela subida. Chegar lá em cima fez todo o perrengue passar batido. Demos sorte e apesar do dia não estar limpo, lá do alto dava pra ver o mar e a baia todinha. Depois de um tempo ali vendo aquilo, descer foi facinho.
No dia seguinte, não muito cedo, resolvemos começar a nossa volta pra casa. Já era quinta-feira e já tinhamos tido tempo pra descomprimir e aceitar que tudo aquilo em algum momento teria que chegar ao fim.
Descemos pro litoral pela estrada Cunha - Paraty, que por muito tempo foi de terra, mas que agora dessa época só sobrou um pedacinho. A estrada já está quase toda asfaltada e qualquer carro faria aquele caminho. O que decepcionou um pouco a mim, a Julia e à Cabrita.
Almoçamos em Paraty, mas o dia estava cinza e chuvoso, nada convidativo, assim que depois de comer já pegamos de novo o carro e fomos voltando.
O trecho de estrada passando em Ubatuba tava uma mega chuva. Menos mal que decidimos ficar lá em cima mais um dia. Subimos a serra, a chuva passou e depois de um tempinho o alarme do carro disparou. Os carros da frente abriam caminho e as pessoas na estrada nos olhavam assustadas. "O que essas doidas tanto buzinam?" O barulho estava alto e parei em um posto de combustivel. Desliguei o motor, desci do carro, fiquei apertando os botõeszinhos do controle e de repente o barulho parou. Ufa... Seguimos! Mais ali adiante, depois de São Luis do Paraitinga, o alarme disparou de novo. Tentei a mesma técnica, dessa vez no acostamento, mas o alarme não parou e quando já estava achando que seguiria até São Paulo com aquele barulho maldito, o dito cujo bloqueou o meu combustível. A Cabrita não ligou mais e fui obrigada a chamar o guincho...
Por sorte estávamos a 40kms de Taubaté e nossos telefones funcionavam bem. Era fim de tarde, mas quando o guincho chegou ainda tinha um resto de luz do dia. A Porto Seguro foi bem ninja. Logo depois do guincho chegou o nosso taxi, também do seguro, transferimos todas as malas e coisas pessoais pra palio weekend e ali nos despedimos da Cabrita. Ela foi de guincho pra oficina.
Foi estranho chegar em casa em outro carro. Rodei com a Cabrita quase 11.000kms. Várias vezes ela ameaçou me deixar na mão, faz foi super guerreira. Aguentou calor, neve, altitude. Cruzou desertos, conheceu lhamas, viu o oceano pacífico, se encheu de poeira, se duvidar as vezes que eu chorei ela deve ter até chorado comigo. Nunca imaginei chegar em casa de outro jeito, nunca imaginei que hoje eu não guardaria ela na garagem, que não daria um abraço carinhoso de agradecimento...
Mas eu entendo a rebeldia da Cabrita e uma das coisas que essa viagem me ensinou foi a olhar bem pra isso. Tanto ela quanto eu, não pertencemos a esse lugar que vivemos. Nós somos do mato, da praia, das estradas e da natureza e se dar toda essa volta de carro me serviu pra algo, foi pra me mostrar que o mundo é muito grande e muito bonito pra ficar aqui paradinha. Com certeza eu tenho um lugar nesse mundo, mas vou ter que procurar mais um tantinho.
Mas enquanto não achamos, Cabrita, eu te prometo, em janeiro vamos passear mais um pouquinho. Vamos juntas e com o Gaia ver os pinguins lá da Patagônia Argentina.
Voltar pra casa foi muito bom, encontrar o Tuna e a Vivian então, foi uma alegria sem fim. Mas hoje, a sensação que eu tenho, é que era uma outra Dora a Pessoa que morava aqui.